sexta-feira

Como pode

A cor bege está nas paredes.
Combinando com a cortina - que também é bege, de renda e com flores.
E uma poltrona cinza.
Do lado esquerdo, só uma mala fechada na cor do vermelho.

A garota deveria saber que dentro de um quadrado haveriam pertences esparramados ou amontoados. Papéis de recordação. Uma sombrinha cor de rosa (que traz lembranças de bons tempos). Um cabideiro estampado com estrelas. Um retrato.

Observa.

Será que é o som da chuva ou o som da música que tocam delicadamente seus ouvidos que a fazem pensar na transformação radical pela qual passou na vida? Mas nada fala. Nada ouve. Nada sente. A verdade é que apenas pensa. Porque refletir é uma tarefa que virou rotineira em meio ao caos.

Será que ela deveria procurar? Quantos desafios deveria suportar e vencer ainda mais? Não é a toa que vez ou outra gosta de lembrar quem era antes de tomar decisões. Então, foi mudando aos poucos: era o cabelo, a escolha das roupas, o cheiro... Mudaram-se os sonhos e o projeto de vida.

Até que acabou sentada. Olhando um cursor. Tentando traçar nas linhas. Tentando ainda encontrar a liberdade.